O Gerações Perdidas surgiu no início de 2010 e teve seus primeiros ensaios em um galpão de fábrica nos arredores do bairro Vila Nova, na cidade de Goiânia. E hoje e formada por Matheus germano (vocal), Guilherme de Sousa (baixo), Jonas Neto (guitarra) e Fred Rezende (bateria).
O nome veio de uma música da própria banda, que queria algo que representasse sua postura e seu som, além de representar as gerações que foram mortas, exterminadas e silenciadas, tanto na ditadura militar, como atualmente pela violência e pela repressão da polícia nas periferias, em um extermínio da juventude que está estampado diariamente em nossa sociedade.
Inclusive a violência policial nas periferias é o tema da faixa "Na periferia intervenção militar é todo dia" que ganhou um lyric vídeo e estreia amanhã no youtube. O quarto trabalho da banda, “Sobrevivendo em Tempos de Ódio” é composto de nove faixas gravadas em dezembro de 2019 e está sendo lançado por vários selos independentes simultaneamente.
Nesses dias agitados que a banda
vem passando com correria de fim de ano, show de lançamento do novo trabalho e
do videoclipe, o vocalista Matheus Germano achou um tempo pra bater um papo com
o Dr. Gori sobre as novidades da banda.
E aí, galera, firmeza? Então, por vários motivos. O
primeiro deles é que queríamos colocar uma música alternativa desse trabalho
novo que estamos lançando, a música “Desalojados” já abre o álbum, então a
chance seria destacar outra música que gostamos muito e que mereceria destaque.
Outro ponto é que vivemos, durante os últimos anos, a real
possibilidade de um golpe militar no Brasil. Nesse sentido, essa música seria
um alerta para que não se repita, como ocorreu diversas vezes durante o século
XX, outro golpe militar.
Enfim, a música “Na periferia...”, enfatiza que, com a
militarização da segurança pública, os supostos ganhos com a redemocratização
de 1988 não chegaram as camadas mais pobres, periféricas e faveladas do país
que tem que conviver, cotidianamente, com violações de direitos humanos,
chacinas e demais políticas de extermínio.
Esse vídeo já faz parte do quarto trabalho da banda, “Sobrevivendo em tempos de ódio”, que vocês estão prestes a lançar… qual é a expectativa de vocês para esse lançamento?
Eu, particularmente, fico muito feliz com esse
lançamento! As nove músicas que compõem esse álbum foram gravadas em finais de
2019, estávamos com uma ótima frequência de shows e no auge da nossa formação,
a expectativa era fazer o lançamento no primeiro semestre de 2020 para,
inclusive, comemorar os 10 anos da banda. Mas, infelizmente, em início de 2020,
com a pandemia do Covid, a banda teve todos os seus shows cancelados, o
lançamento do álbum postergado e, mediante a todos desafios que vivemos em nossas
vidas pessoais, encerramos a atividade da Gerações Perdidas nesse mesmo ano,
retornando, com uma nova formação, em 2024.
Nos dois últimos trabalhos “Gerações
Perdidas”, lançado em 2012 e o compacto 7’’ intitulado “Motivos para resistir”,
a banda foi evoluindo musicalmente.. para esse novo trabalho como foi o
processo de composição e o que a galera pode esperar das músicas?
As músicas que compõem esse álbum foram feitas durante o período de 2015 a 2019, num momento de ascensão e refluxos de diversas lutas sociais no Brasil. “Desalojados” foi feita no momento de pós-Olimpíadas e Copa do Mundo, no calor do movimento “não vai ter Copa”, que gritava contra as práticas de remoções de moradias populares para a construção da infraestrutura desses megaeventos, bem como o reflexos violentos da especulação imobiliária para as camadas populares. “Na periferia” expressa o momento de nascimento da nova extrema direita no Brasil, os primeiros momentos em que setores da classe média passou a clamar pela intervenção militar. “Crimes de misoginia/homofobia” é um reflexo do recrudescimento do feminicídio e da lesbo/homo/transfobia deste período. “Escola de luta” mostra o momento vitorioso dos secundaristas goianos que conseguiram barrar a privatização do ensino público (via as O.S.) ao ocupar as escolas e tensionar para um novo modelo educacional visando o aluno como sujeito do aprendizado. “Sobrevivendo em tempos de ódio” foi um grito, um clamor pela resistência em meio a destruição dos direitos sociais e o aumento da repressão aos movimentos sociais que estamos vivendo. Enfim, para não delongar muito, essas são algumas das ideais que a galera pode esperar ao ouvir nosso álbum.
Esses
trabalhos anteriores ainda tem uma boa receptividade da galera?
Bem, acho que sim. O cd de 2012, Gerações Perdidas, foi lançado por vários selos/coletivos
libertários que incluem países como México, Peru, Chile e Argentina. O ep que
saiu em vinil, Motivos para resistir,
foi possível a partir de um coletivo de selos do Brasil e com a ajuda de diversas
pessoas ele foi prensado na Europa, trazido para cá e distribuído de forma
totalmente autônoma. Nos shows, a pedido do público, sempre gostamos de tocar
músicas de todos nossos materiais, na gig de lançamento do mais novo álbum
vamos lembrar de todas as fases da banda no nosso setlist.
A banda já tem quase 15 anos de estrada, preparando o lançamento do quarto trabalho e devem estar se preparando uma série de novos shows também… Por onde vocês já passaram e por onde ainda pretendem passar em nova gigs?
A nossa trajetória começou em 2010,
quando a banda foi formada em um quartinho nos fundos de uma fábrica de móveis
no Vila Nova. Em 2011, de forma autônoma, a banda lançou o seu primeiro
material, a demo Contra o Extermínio da Juventude, Se Organize e Lute!.
Em 2012, lançamoso álbum Gerações Perdidas, juntamente com um coletivo
de selos do Brasil e da América do Sul, que registrou os sons feitos nesses
seus primeiros anos de trajetória. Após várias apresentações pela BA, DF, GO,
MG e SP, em 2015 a banda gravou o EP Motivos para Resistir,
distribuído em vinil em parceria com selos independentes de todo país. Em 2019,
a banda gravou Sobrevivendo em Tempos de Ódio, planejado para celebrar
os 10 anos da banda em 2020. Porém, com a pandemia, a banda interrompeu suas
atividades, retornando apenas em 2024 com nova formação: Matheus (vocal), Fred
(bateria), Guilherme (baixo) e Netão (guitarra).
Agora, a Gerações Perdidas se
prepara para o lançamento do álbum Sobrevivendo em Tempos de Ódio e
tem planos para uma discografia completa e um novo EP com cinco faixas inéditas
para 2025.
Como a banda foi formada e qual é a história de vocês até agora?
A banda nasceu em 2010, moldada por
influências políticas e sonoras do universo do punk/hardcore e pela necessidade
de expressar a indignação diante das injustiças diárias e do terrorismo de
Estado perpetuada nas periferias. Suas letras são carregadas de crítica social,
abordando temas como a exploração humana, o militarismo, as guerras, o
extermínio da juventude, a devastação ambiental, a manipulação da grande mídia
e o massacre dos povos indígenas. Com um teor que vai além da denúncia, as
músicas também incentivam a organização social, propondo alternativas de
resistência e combate ao sistema opressor.
Onde o Gerações Perdidas se encaixa na cena punk/hc?
Bem, aí acho que é uma pergunta que o público da banda
responderia melhor.. Mas, quando começamos, nos encaixamos na cena libertária
que existia na cidade, organizávamos eventos juntos com os coletivos e selos.
Também buscávamos nos aliar/participar nas lutas dos movimentos sociais, nesse
ponto tocamos em diversos eventos nas jornadas de lutas pelo transporte público
de 2013, nos movimentos de ocupações de escolas públicas pelos secundaristas
contra as OSs em 2014-15 e nas ocupações dos estudantes das instituições
federais de ensino durante entre 2015-16.
Deixe um recado pra galera…
Gostaria de usar esse espaço para agradecer o espaço dado no zine nesse momento de retorno da banda. Também gostaria de agradecer todos os espaços, ocupas, centros culturais, casas de shows que a Gerações Perdidas tocou em sua década de existência e aos amigos que fizemos em Goiás, Bahia, Distrito Federal, Minas Gerais e São Paulo; a toda movida libertária, periférica e underground que pudemos somar. A todas as pessoas, selos e distros que contribuíram para o lançamento dos nossos materiais!
Um forte abraço a todos aqueles que contribuíram nessa
jornada!
Matheus.