sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

PROCURANDO SAÍDA: DESASTRE RELANÇA CLÁSSICO DO PUNK NACIONAL EM VINIL

O Desastre prepara para os próximos dias mais um relançamento de “Procurando Saída”. Desta vez, a obra-prima do metalpunk nacional será imortalizada em vinil colorido de 180 gramas, capa dupla e encarte colorido. Para aquecer os motores do underground e acompanhar a nova edição deste clássico, a banda produziu vídeos de algumas músicas do disco, e lança hoje o primeiro deles: “Revólver”.


Formada em 1996, a Desastre é uma das bandas mais icônicas do punk e do underground nacional. Com seu som inconfundível, a banda acumula 28 anos de história e reconhecimento internacional. Inclusive, seus dois primeiros discos “Pesadelo Real” (2003) e “Perigo Iminente” (2005) foram lançados em formato LP na França e Alemanha, respectivamente. Além disso, a banda possui outros quatro trabalhos lançados em 7": “Funeral na Nova Ordem (2000), “Mundo Velho (2002) , “Espiral de Barbáries” (2017) e "Vasto Deserto" (2018).

Wilton D, fundador e vocalista da banda, conversou com o Dr. Gori sobre esse grande acontecimento que será cantado em verso e prosa durante todo o ano de 2025 no underground nacional!




O álbum Procurando Saída hoje é considerado um clássico um punk nacional. Qual é a expectativa para o lançamento desse trabalho em vinil?
Cara a expectativa é muito boa. O disco vai ficar muito bonito. A capa já tá pronta. Vai ser uma capa dupla um gatefold , né. E vai ter algumas fotos inéditas, outras não, mas a arte de um modo geral tá muito bonita. A prensagem tá sendo feita na Polisom. Então as expectativas são muito boas. Acho que vai ficar um disco muito bonito graficamente, esteticamente falando. Espero que a qualidade da prensagem seja boa também e espero que as pessoas que comprarem o disco fiquem felizes com aquisição.

Como a banda chegou a esse relançamento, foi uma iniciativa de quem?
A primeira pessoa que me procurou foi o Bacural [Bacural Discos, Ímpeto]. Ele me disse que estava em conversa com o Bruno Foca, de São Paulo e que pensavam em fazer o relançamento do disco em LP. A partir da dessa conversa, o Bruno entrou em contato comigo também e foi tudo muito rápido. Eles conseguiram todos os selos e as pessoas que estão participando do relançamento muito rápido. Acho que as primeiras conversas foram ali por outubro/2024 e tudo já foi prontamente organizado. O Bruno é uma pessoa muito organizada e fez com que tudo caminhasse muito rapidamente.

Esse não é o primeiro relançamento de procurando Saída, ele já saiu com uma versão com faixas extras ao vivo..
Sim, ele já foi relançado em CD. Uma segunda prensagem em CD que contou com algumas faixas bônus ao vivo de um show que foi gravado no Martim Cererê com uma formação diferente do que foi a formação que gravou o disco. Esse CD tá disponível ainda pela Two Beers or Not Two Beers Recs. Se alguém tiver interesse, basta entrar em contato com eles que ainda é possível adquirir cópias desta segunda prensagem do CD.


Porque algumas músicas acabaram ficando de fora dessa versão em vinil?
O disco é muito longo e o vinil tem um limite de tempo. Se eu não me engano 22 minutos de cada lado para que tenha uma qualidade melhor. Acho que o “Procurando Saída” todo tem mais ou menos 57 minutos, alguma coisa assim. Não era possível colocar todas as músicas, tivemos que deixar algumas de fora para que o disco não perdesse qualidade na prensagem. Optei por tirar, por exemplo, o cover do Besthöven que o Fofão inclusive lamentou que não tenha sido colocado. Eu falei com ele recentemente e ele disse: “– Pô, vai sair o cover no disco cara?” Além disso, a versão do Belchior que a gente tinha feito não vai estar no LP também, porque a gente não conseguiu autorização dos herdeiros do cara para que a música fosse incluída. Eles disseram que não era possível conceder a autorização porque a versão que fizemos descaracteriza a versão original feita pelo Belchior. Então ficou de fora. Algumas outras ficaram fora também. Eu fiz essa curadoria, quais entrariam e quais sairiam. Mas é isso, infelizmente algumas ficaram de fora por questão de tempo. O LP não suportaria todas as músicas.

Como foi o período de gravação do álbum?
Cara o período de gravação do “Procurando Saída” foi em 2007. Foi uma fase muito produtiva da banda. O que facilitou muito a composição desse disco foi o fato de que a gente tinha um estúdio próprio, que ficava na casa do meu pai. Você sabe, né, você já tocou lá...rsrs. Então o fato de ter o estúdio próprio fez com que a gente tivesse mais tempo para produzir as músicas, pensar nas músicas, e fazer um disco um pouco mais elaborado. Isso foi um fator determinante para que o disco tivesse tanto o tamanho em termos de tempo quanto a profundidade em termos de elaboração musical. Além desse fato, a entrada do Hassan na banda fez com que a gente desse um salto em direção a possibilidades de se trabalhar de forma mais elaborada as músicas em termos de composição. O Hassan era uma pessoa muito versátil na guitarra, então isso puxou o resto da banda. Fez com que a gente passasse a executar ideias que a gente tinha anteriormente, mas que por questões técnicas não conseguíamos. O Procurando Saída existe também porque o Hassan entrou na banda e fez com que a gente pudesse explorar estilos, timbres e possibilidades musicais que anteriormente não eram possíveis por causa das limitações técnicas que tínhamos nas guitarras.

Antes de Procurando Saída, o Desastre tinha já tinha lançado “Mundo Velho” e “Pesadelo Real” e "Perigo Iminente", trabalhos mais crus e diretos… Quais foram os caminhos que levaram até a evolução do o estilo metal punk de Procurando Saída, que é bem mais elaborado musicalmente?
Cara eu acho que é um pouco do que eu falei antes. O Procurando Saída é resultado, em grande parte, do tempo que tivemos para dedicar a composição desse álbum e também da entrada do Hassan no Desastre. Isso foi definitivo para que a gente conseguisse atingir o nível técnico do “Procurando Saída”. Essa coisa mais metal, essas guitarras mais rock-metal que são características desse disco. Sem o Hassan isso não teria sido possível. O “Perigo Iminente” já foi ali uma tentativa de fazer algo mais elaborado, mas dentro das nossas limitações técnicas. A maioria das músicas do perigo Iminente são minhas, o Rato fez duas. Anteriormente, no “Pesadelo Real” à exceção de uma música que o Rato fez, todo o restante foi eu, assim como todas as anteriores. Eu sou um guitarrista tecnicamente muito limitado, né. Jamais conseguiria tocar as músicas do “Procurando Saída”, apesar de ter feito muitos riffs do disco. Mas eu criava os riffs e passava para o Hassan que deixava com o um toque totalmente diferente em termos de paletada, colocava mais elementos que deixava a música muito mais melódica e direcionada para uma pegada metal que é o que a gente estava pensando em fazer. O Danny também compôs nesse disco. “O Inferno não é Um Lugar Ruim”, Me Diga que a Morte Seja Apenas Ilusão” são riffs criados pelo Danny. Então é isso, né, o “Procurando Saída” é resultado desse processo. Um pouco de cada um e principalmente da entrada do Hassan na banda que possibilitou essa atmosfera de experimentar, misturar elementos e estilos musicais: punk, rock, metal, hard rock.


O Desastre é uma banda muito produtiva em termos de lançamentos e a banda voltou a ensaiar com o Fabiano na bateria e o Danny no baixo, que gravaram o Procurando Saída. Após o relançamento de “Procurando Saída” a banda pretende compor material novo com essa formação?
Cara, não nada pensado nesse sentido de fazer novos lançamentos. Por enquanto a gente tá organizando para começar os ensaios para fazer o lançamento do disco. É uma festa, né, de comemoração do lançamento desse disco em LP. Talvez a gente mantenha a formação para fazer shows, mas nem cogitamos a ideia de fazer músicas novas. Temos convites para tocar em São Paulo e tal, mas tudo isso é muito difícil na conjuntura atual. Tudo é muito caro, passagens, comida, todo mundo tem muitos compromissos de tempo e tudo mais. Então não sabemos como será essa dinâmica. O que a gente quer no momento é fazer alguns ensaios fazer esse show de lançamento e vamos levando a coisa na maciota, né. Na medida do que for possível em termos de tempo e de dinheiro.


Deixe aquele recado pra galera…
Heavy, muito obrigado pelo espaço aqui no Dr. Gori. Você que é uma pessoa que sempre acompanhou o trabalho do Desastre. Muito obrigado por todo o suporte que você deu e tem dado para banda ao longo dos anos. Muito obrigado por essa amizade. Esperamos que o LP esteja disponível já no início de fevereiro/2025. Agradeço muito a todos os selos e pessoas que estão envolvidas no lançamento do LP. O disco vai ficar muito bonito, com uma qualidade muito boa. Então espero que o lançamento reifique o valor que muitas pessoas dão para esse disco. Muito obrigado, um abraço a todos, e espero ver vocês por aí. Ao pessoal de Goiânia, espero ver vocês no lançamento do disco que deve acontecer em breve.  




terça-feira, 21 de janeiro de 2025

COLUNAS ANTISSOCIAIS: EVA ESTÁ AQUI


EVA ESTÁ AQUI

Júlio Maria

Jornalista e biógrafo

Aos poucos conheço Eva. Não pelos livros nem pelo cinema, mas pela memória de sua filha, com quem me casei há três meses. Eva não resistiu à sobreposição de eclipses sobre sua luz antes de ser sepultada na indigência da História. Casada com o intelectual comunista Clodomir Santos de Morais, um dos líderes das Ligas Camponesas, ela teve sua coragem e seus sofrimentos sombreados pela coragem e sofrimento dos homens. 


Eva não morou na Zona Sul do Rio nem em Higienópolis. Era uma gaúcha cabocla de poucas palavras que queria capacitar famílias rurais para que elas não precisassem de governos. Viveu parte da infância escravizada em uma fazenda no interior do Rio Grande do Sul, foi abusada por um padrasto e, quando aderiu à resistência armada pelas causas camponesas, abaixou-se para dizer algo olhando nos olhos da filha: “Se um dia eu mandar você correr, corra e não olhe para trás.”

      

Quando tinha 22 anos, em 12 de dezembro de 1962, Eva estava com Clodomir e o motorista em um jipe Aero Willys passando por Parada de Lucas, no Rio. O pneu do carro furou e os policiais apareceram. No interior do veículo havia 72 armas de grosso calibre sendo levadas para municiar camponeses na luta por terras. 


Os três foram conduzidos para a Invernada de Olaria, uma zona de tortura instalada no Rio. Fios foram desencapados e 15 homens se reuniram para seviciá-la enquanto Clodomir apanhava em outra sala. Como se negou a ficar nua, um deles a segurou enquanto outro rasgou sua blusa. A sessão começou com o jogo de peteca: Eva ficava no meio de uma roda para ser esbofeteada. Um tapa a lançava por alguns metros e outro agente a devolvia com outro tapa.

     

Eles a colocaram no pau de arara, mas, como Eva não dizia nada sobre o marido e as Ligas Camponesas, alguém trouxe os fios. Dois deles foram penetrados em seus ouvidos para disparar choques nos tímpanos enquanto outras pontas foram presas à cabeça. Eva só gritava. Colocaram pontas de fios nos bicos dos seios e introduziram outra em sua vagina. Dispararam cargas elétricas até Eva perder os sentidos. Em abril de 1963, uma CPI foi aberta para apurar os exageros da Invernada de Olaria. Eva se tornou a primeira mulher a relatar a tortura no Brasil. E a história nem havia começado.


O Golpe de 1964 levou Eva e o marido de novo à prisão e, em seguida, os obrigou a sair do país. Exilaram-se no Chile e seguiram depois por México, Costa Rica, Honduras, Portugal, Nicarágua e Alemanha Oriental, onde Eva teve a certeza de que sua família estava sendo vigiada pela Stasi, a polícia secreta do regime comunista. 


No dia em que Clodomir, devoto do sistema, a viu com o ouvido colado à parede da sala auscultando ruídos de fios colocados por espiões, decidiu interná-la. Eva chegou a mostrar à filha como os espiões os vigiavam do prédio da frente, mas nada a livrou de passar um ano tomando, desta vez, eletrochoques alemães. Dois anos depois de voltarem ao Brasil, o muro caiu e a espionagem aos brasileiros foi comprovada. 


Clodomir a deixou por uma mulher 35 anos mais jovem. Eva caiu em depressão e morreu de câncer em 2000.  


Novembro de 2024. Saio de uma sessão de “Ainda estou aqui” com Indiana, a filha de Eva. Eu sei por que ela chora. O filme aclamado por tantos justos motivos é asséptico, higienizado e estético. A Zona Sul cuidadosamente contada pela Zona Sul. Até os carros antigos brilham como se a moda fosse encerá-los todos os dias. A trilha sonora traz brasilidades de pista e as Fernandas, filha e mãe, estão leves e tocantes. 


Mostra-se a masmorra, mas não a tortura, e parece importante que um personagem diga algo com repulsa ao revelar as ações do desaparecido Rubens Paiva à sua mulher, Eunice: “Nunca pegamos em armas.” Como filha, Indiana se sente traída pelos únicos mediadores que podem contar às massas sobre o passado mais ameaçador da História do Brasil. 


Como biógrafo, só não me sinto um fracasso porque segurei as mãos de Indiana e disse, enquanto ela chorava: “Chegou a hora de contar a história de sua mãe.”


segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

6º SENTIDO LANÇA VÍDEO DA MÚSICA "MUNDO DO PRECONCEITO"

A banda goiana Sexto Sentido lançou no final do ano o lyric vídeo de seu som mais recente “Mundo do Preconceito” no seu canal do Youtube. A banda é formada por Guilherme Leandro (guitarrista), Lucas Alves (guitarrista), João Flávio (baterista) e Kennedy Alves (vocalista e baixista). O Dr. Gori bateu um papo rápido com o vocalista e baixista Kennedy Alves sobre esta novidade.

Vocês lançaram o vídeo da música “Mundo do preconceito”. Porque essa música foi escolhida e sobre o que ela fala?
A música mundo do preconceito foi escolhida por nós do 6°SENTIDO para este lançamento que vai estar em lyric vídeo em parceria com a Motim Underground , é em breve estará disponível em mídias digitais de música, por que e uma das primeiras composições da banda, e também e uma música que abrange mais de um estilo entre uma pegada de metal , com uma pegada punk rock também.

Essa música fala sobre uma crítica social, no qual aborda o julgamento da sociedade sobre você a respeito do que você tem em valor financeiro, e também aborda como para os políticos o dinheiro resolve tudo, mesmo que sejam presos sempre pagam fiança. E caso a pessoa pense em cobrar ou mudar o seu papel nisso, a sociedade te julga por ser um crítico do sistema.

A presença da banda nas plataformas de streaming e redes sociais também é um ponto forte de divulgação do trabalho de vocês?
Sim. Esse não e o primeiro material em vídeo que a gente disponibilizou para o nosso público que gosta da banda , temos matérias em vídeos dos shows ao vivo que fizemos no decorrer do ano de 2024 , hoje o 6°SENTIDO conta com materiais em todas as mídias digitais de música é streaming , estamos nas principais plataformas como Spotify, Deezer, YouTube, Amazon Music, Apple Music e vários outros.
 
Vocês vão mostrando o repertório de vocês de single em single. Já estão preparando um trabalho tipo EP ou CD, quando a gente vai poder ouvir ver um trabalho completo da banda?A banda vem lançando singles no decorrer dos anos entre 2023 e 2024 , essa foi uma forma de conseguir fazer novos materiais conforme as condições financeiras da banda, por tanto temos um projeto de estar lançando um EP de 5 faixas com duas músicas novas no repertório , e futuramente conforme as condições financeiras e a disposição da banda , a gente tem planos de lançar também um álbum pra galera que gosta da banda.