sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

TECNOLOGIA, DESINFORMAÇÃO E CRIMINALIZAÇÃO DA POPULAÇÃO NEGRA

No Brasil, onde a violência policial contra a população negra é estrutural, as notícias falsas sobre crimes supostamente cometidos por cidadãos negros alimentam estereótipos racistas, legitimam abordagens violentas e perpetuam a discriminação. Vídeos descontextualizados, boatos infundados e manchetes sensacionalistas circulam rapidamente na mídia e nas redes sociais, alimentando um discurso punitivista, que influencia políticas de segurança pública e perpetua a discriminação racial no país.

A desinformação serve para confirmar uma ‘memória oficial’ da violência policial em detrimento de histórias e narrativas de pessoas que habitam periferias e favelas. Famílias das vítimas frequentemente se veem forçadas a provar que seus parentes eram inocentes e, portanto, não mereciam a violência do Estado, o que gera impactos sociais profundos. 


Padrões perigosos de vinculação a crimes que muitas vezes esses cidadãos não cometem, como o uso de fotos manipuladas, são práticas históricas de manipulação de informações para legitimar ações autoritárias. Esses padrões também estão relacionados ao tratamento desigual nas abordagens policiais entre comunidades negras e periféricas e áreas brancas e de maior poder aquisitivo. A violência seletiva é apresentada como necessária para manutenção de uma ordem, observa, e usa a difusão do medo como ferramenta de controle social. 

A desinformação tem um papel fundamental em reforçar essa seletividade das ações violentas da polícia, “ampliando e permitindo que circule em novas linguagens” por meio das redes sociais, reflexo da sociedade, criando uma nova arena onde os discursos de ódio contra negros se fortalecem. Uma vez que seus algoritmos favorecem o engajamento e a viralização de conteúdos sensacionalistas. Esses conteúdos nascem primeiramente em grupos fechados e rapidamente migram para redes públicas como Facebook, Instagram, TikTok e X (antigo Twitter). 

Casos emblemáticos ilustram o impacto devastador da desinformação na violência policial contra negros, como o assassinato da vereadora Marielle Franco, em 2018. A falsificação de seu envolvimento com o tráfico e a propagação de fotos falsas atribuídas a ela evidenciam como a desinformação pode legitimar a violência contra pessoas negras e reforçar um discurso de ódio. 

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