sexta-feira, 29 de agosto de 2025

CORJA LANÇA HOJE SEU QUARTO ÁLBUM EM SHOW COM MANGER CADAVRE

O Corja lança hoje seu quarto álbum “... E tudo vai piorar”, com 9 faixas gravadas e produzidas pela própria banda, que trazem um caráter mais universal à sua mensagem. O disco é um retrato mais maduro da fase iniciada no trabalho anterior, “O elefante na sala de cristais/A intolerância tolerante”, e representa tanto musicalmente e quanto liricamente, questionamentos sobre os principais temas do período tenebroso em que vivemos. 

Temas como a polarização, a truculência da necropolitica, a ascensão da nova extrema direita, e também as causas psicológicas e políticas que levaram esses eventos macabros a ocorrerem, além de canções sobre depressão, individualismo doentio e sobre o poder da desconstrução e da mudança de pensamento que nossa sociedade se viu obrigada a lidar nos últimos tempos e como esta reagiu tanto pro lado positivo quanto pro negativo. 

Lenda do underground goiano, a banda surgiu em Goiânia em 1998, durante a efervescência do cenário local da época, e o vocalista e baixista Wander Segundo bateu um papo com o Dr. Gori sobre o novo lançamento. 

O novo disco do Corja é um retrato duro da atmosfera vivida no país nos últimos 10 anos. É uma concepção que foi pensada e trabalhada previamente ou ela foi saindo naturalmente com os absurdos que fomos vivenciando nos últimos tempos? 

Na verdade foi um pouco dos dois, nós passamos por uma avalanche de mudanças pra pior nesse período todo que chegou  num ponto que as músicas que foram escritas com uma concepção prévia acabaram por se ressignificar ao longo desse curto período de tempo, assim como em vários dos grandes discos de protesto ao longo da história da música as coisas vão tomando outro sentido com o passar do tempo sem perder o frescor da idéia original e nós tivemos a sorte de que as letras desse disco não soassem datadas, é sobre esse período conturbado no nosso contexto atual, mas que pode ser lido e interpretado de forma diferente através dos anos porque ao mesmo tempo que tudo hoje é rápido com a tecnologia a questão humana parece estar acontecendo de forma mais lenta com o tanto de retrocesso que a humanidade vem sofrendo como um todo.


Estamos vivendo um período onde a crise do capitalismo está mostrando sua face mais tenebrosa e vivemos a beira de um colapso total, o que nos remete por exemplo à guerra fria. Então as canções de protesto escritas nessa época tomam o significado de hoje porque a ameaça atômica está aí mais uma vez, sob uma nova roupagem o mesmo clima de insegurança se saber se o mundo vai existir amanhã vem retornando.  Muita coisa que era pessimista e hipotética no passado se tornou a ordem do dia. Vamos pegar um exemplo que aconteceu alguns anos atrás: nos anos 80 a música 99 redbaloons (ou luftbaloons)  da Nena expunha o quão longe o militarismo poderia chegar ao ponto de jovens descompromissados soltarem balões no céu causarem uma guerra por achar que tais balões eram espiões, tamanho o senso de paranoia que rondava a sociedade da época. Uns anos atrás isso realmente aconteceu quando a China lançou balões espiões nos EUA, a paranoia dos anos 80 virou realidade nua e crua 30, 40 anos depois... se formos pensar nos drones então, no reconhecimento facial, tudo isso se torna muito assustador...


  Assim como algumas das letras desse disco acabaram tomando essa mesma proporção... se pensar que O Privilégio é Estar Morto foi composta em 2016 dá pra sacar exatamente do que eu estou falando, e isso faz com que as letras se tornem atemporais. Necropolítica foi escrita antes da pandemia e depois da pandemia caiu como uma luva pra tudo que aconteceu no mundo na época e depois dela, graças a ascensão da extrema direita mundial, a questão Palestina hoje por exemplo mostra o conceito do Mbembe completamente escancarado, os líderes da direita não cobrem mais as coisas com o véu de decência que vestiam antes e pra muitas pessoas o que era chocante e inadmissível se tornou cotidiano... algumas até aceitam e vangloriam a barbárie mesmo sabendo que também são vítimas dela... e por ai vai, cada uma das 8 músicas nossas no disco tem sua peculiaridade e uma interconexão com o que rolou no passado e a de-evolução que passou ate chegar nos dias de hoje. Acho que só Força de Desconstruir que dá um tom de esperança dentro do caos que continua carregando o mesmo significado original que é colocar na desconstrução de cada indivíduo o restinho de fé que a gente tem pela humanidade.

 

Foi um álbum composto devagar, em estúdio próprio e que apresenta algo diferente: arranjos mais maduros e músicas  e músicas mais pesadas, com uma pegada mais metal. Como essa evolução da parte musical foi sendo trabalhada?

Na verdade a única música que realmente foi trabalhada com o tempo foi Muito Obrigado que foi a última música composta pro disco, logo após o retorno das atividades pos pandemia. Todas as outras já estavam prontas quando a gente começou a gravar o disco em 2019. 


O que mudou foi realmente a parte técnica porque nós gravamos mais da metade do disco no nosso estúdio e aprendemos a mexer o básico nesse meio tempo, o disco demorou a sair mais porque estávamos aprendendo a gravar e a produzir nossas próprias músicas do que exatamente trabalhando elas no estúdio.  As duas músicas novas que já fizemos depois que o álbum foi gravado tem mais esse teor ai de parar pra colocar arranjos e trabalhar mais cada música. Então que rolou desse disco agora pros anteriores foi mesmo uma evolução natural da banda.


Algumas faixas também foram gravadas e tiveram produção em outros estúdios?
Na verdade a banda ficou parada quase dois anos por causa do isolamento, não fizemos nada novo, retomamos de onde paramos e por isso tem três músicas que foram gravadas no Old e o resto no nosso estúdio.  


Exatamente na semana que íamos gravar mais 3 músicas a pandemia explodiu e tudo fechou. Nós tínhamos o álbum praticamente pronto e três músicas gravadas. O que rolava fazer durante a pandemia pra mostrar que a banda existia era justamente trabalhar essas músicas já gravadas e anunciar que o álbum sairia assim que pudéssemos nos reunir pra tocar de novo. E tivemos que retomar tudo do zero e por isso o álbum demorou tanto, foram 6 anos pra sair... o que não vai acontecer novamente kkk muito em breve já vamos ter material novo por ai...


Como anda a perspectiva dos membros da banda após transformar em música os relatos e as ameaças fascistas que parecem não ceder tão cedo… tudo vai piorar?


Ainda vai piorar bastante... a humanidade ainda está aprendendo a por os limites na própria tecnologia que criou...tudo evoluiu tão rápido que a própria ética não conseguiu acompanhar as mudanças e isso gerou uma desordem tão grande que muitas pessoas acreditam que a ordem vai mudar ou melhorar as coisas, por isso o fascismo se torna uma opção (a pior delas) pra muita gente que de repente se viu sem chão. 


O abismo entre as gerações mais velhas e as mais novas se aprofundou tanto que todo mundo ficou perdido e o elo que unia a tradição política e cultural ocidental se rompeu e se espalhou em milhares de pedacinhos, o que aliás é o contexto do álbum anterior: o elefante entrou na loja de cristais e agora estamos vivendo a consequência desse estrago e talvez não vamos conseguir limpar toda a sujeira em nosso tempo de vida, não sei se teremos tempo pra ver as coisas melhorarem. 


Sei que a cada dia a máxima do Einstein sobre a terceira guerra mundial ser com paus e pedras se torna cada dia mais real e toda a teoria da De-Evolução que o Devo criou sobre a humanidade estar regredindo e se tornando cada vez mais idiota está se concretizando. A insegurança e a incerteza cada vez mais tomam a humanidade de assalto... mas uma hora essa corda arrebenta... uma hora as pessoas vão voltar ao fio da meada e vão se revoltar novamente e o fascismo vai voltar a ser a grande vergonha mundial. 


Por sorte uma boa parte da nova geração já sacou isso e dá pra voltar a ter uma fagulha de esperança, até porque eles sacaram isso por eles mesmos. Não aceitaram a intervenção dos mais velhos e é bem legal ver gente mais nova compartilhando dos mesmos ideais que a gente sem ter tido a nossa influência direta, acho que é assim que podemos começar a tentar construir coletivamente um mundo mais permissivo, justo e livre de opressões.  

sexta-feira, 18 de julho de 2025

LÍNGUAS ENVENENADAS LANÇA VÍDEO DA FAIXA "SOZINHO NO QUARTO" E PREPARA EP PARA BREVE

No meu primeiro contato com a banda Línguas Envenenadas, novíssima sensação da geração atual de bandas goianas, meu primeiro pensamento foi: “taí uma galera que faz rock sem medo de ser feliz”. Isso nunca me saiu da cabeça e hoje, com a banda trabalhando em seu primeiro material, eu penso como o rock atual precisa de artistas que entreguem muito mais que música ao subir no palco… 

Essa é a proposta do Línguas Envenenadas, que lança hoje o primeiro single “Sozinho no quarto”, do EP que deve ser lançado até o final do ano. Em meio à correria do dia a dia, rolês aleatórios e sem tempo a perder, o frontman da banda, Rafael Bom Jovem falou com o Dr.Gori sobre o vídeo foi produzido pela galera do Motim Underground e do trabalho que será lançado em breve pela Two Beers or Not Two Beers.



Vocês estão lançando o vídeo da música “Sozinho no Quarto”…. Porque essa foi a música escolhida e qual é a temática dela?

“Sozinho no quarto” é uma porrada no estômago, pra lembrar de coisas e pessoas que deixamos para trás, a temática é a pura essência de sexo, drogas e hard rock. Ela foi escolhida pois é a nossa primeira faixa do EP que será lançado. 


Quando será lançado o material em cd da banda?

Estamos trabalhando para que até o final de 2025, acredito que em novembro possamos ter o material físico em mãos para um lançamento em Goiânia e Brasília, porém não será um Cd mas sim um EP 7 polegadas.


O Línguas Envenenadas é uma banda que surgiu a algum tempo e foi tomando identidade própria ao longo do caminho. Qual é a história da banda?

A banda se formou em Brasília, através do Lucas Romano, Lucas Morais e Rafael Luiz Slongo, há mais ou menos 4 anos atrás, a vontade sempre foi tocar, independente de música, a ideia inicial foi ocupar os dedos nervosos do guitarrista e potencializar as loucuras.


Quais são as grandes influências dos membros da banda?

Sem dúvidas gêneros músicas como Punk e Hard Rock, citar bandas seria demais pra gente, mas a influência de bandas nacionais e o puro suco do hard rock internacional.


É uma banda raiz, com mais presença em palco e corpo a corpo com seu público nos shows, do que em redes sociais, seguindo na contramão das bandas atuais? Porque essa postura?

Cansados do mais do mesmo, não queremos aparecer pra ninguém, mas já fazemos isso por natureza, o nome, atitude e tocar alto e tocar bem é o nosso lance, quem quer ver sangue e rosas no palco tem que ir ver ao vivo, mas já já poderá ter isso pra escutar na vitrola ou nos streams, o Línguas Envenenadas é ação, emoção e.. perigosamente para vocês! 


Onde o Línguas Envenenadas se encaixa no mundo rock n roll?

Se encaixa onde tiver oportunidade de transmitir sua mensagem, Línguas Envenenadas é pura vontade de viver, sem medo e tempo a perder.


Existe o plano de lançar mais singles e mais vídeos?

Temos quatro músicas em nosso EP, sendo Andando Rápido Demais, que dá nome ao álbum, Sozinho no quarto do Vídeo Clip, Opio do Povo que fala sobre a religião, letra da Lays Alencar , artista de Goiânia junto com participação no vocal de Wilton Dias (Desastre) e Medo do Medo, que é a nossa banda com refrão “ Medo jamais, erros a mais”. Lembrando que nosso EP foi gravado no estúdio Coruja em Goiânia, como Rodrigo (Hellbenders) na bateria, que nos trouxe toda forma para banda, sendo determinante para definição de nossas músicas. 


O rock está morto?

Dentro de quem?  O rock vive em nós, no posicionamento e na atitude  e na vontade de fazer diferente, seja existindo ou fazendo rock !


Deixe um recado pra galera…

Não desista dos seus sonhos, se você quer.. vá lá e faça você mesmo, por si e por sua vontade de viver.

segunda-feira, 31 de março de 2025

AGNOIZZE LANÇA VÍDEO DA MÚSICA "PEDRA NO CAMINHO"


O Agnoizze é um duo formado em 2023 e no final de 2024 eles lançaram virtualmente o “Agnoizze EP”, que em breve será relançado pela TwoBeers em formato físico e com adição de material inédito. A banda lançou o lyric video da faixa "Pedra no Caminho", produzido pelo Motim Underground e disponível no youtube do selo.


A dupla bateu um papo com o Dr. Gori, que resultou numa entrevista em vídeo, onde a banda falou sobre a expectativa do novo trabalho, das suas influências e experiencia no underground e explicou porque a bicicleta que sempre os acompanha também é considerada um integrante da banda. 


Dá o play e curte aí!




sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

TECNOLOGIA, DESINFORMAÇÃO E CRIMINALIZAÇÃO DA POPULAÇÃO NEGRA

No Brasil, onde a violência policial contra a população negra é estrutural, as notícias falsas sobre crimes supostamente cometidos por cidadãos negros alimentam estereótipos racistas, legitimam abordagens violentas e perpetuam a discriminação. Vídeos descontextualizados, boatos infundados e manchetes sensacionalistas circulam rapidamente na mídia e nas redes sociais, alimentando um discurso punitivista, que influencia políticas de segurança pública e perpetua a discriminação racial no país.

A desinformação serve para confirmar uma ‘memória oficial’ da violência policial em detrimento de histórias e narrativas de pessoas que habitam periferias e favelas. Famílias das vítimas frequentemente se veem forçadas a provar que seus parentes eram inocentes e, portanto, não mereciam a violência do Estado, o que gera impactos sociais profundos. 


Padrões perigosos de vinculação a crimes que muitas vezes esses cidadãos não cometem, como o uso de fotos manipuladas, são práticas históricas de manipulação de informações para legitimar ações autoritárias. Esses padrões também estão relacionados ao tratamento desigual nas abordagens policiais entre comunidades negras e periféricas e áreas brancas e de maior poder aquisitivo. A violência seletiva é apresentada como necessária para manutenção de uma ordem, observa, e usa a difusão do medo como ferramenta de controle social. 

A desinformação tem um papel fundamental em reforçar essa seletividade das ações violentas da polícia, “ampliando e permitindo que circule em novas linguagens” por meio das redes sociais, reflexo da sociedade, criando uma nova arena onde os discursos de ódio contra negros se fortalecem. Uma vez que seus algoritmos favorecem o engajamento e a viralização de conteúdos sensacionalistas. Esses conteúdos nascem primeiramente em grupos fechados e rapidamente migram para redes públicas como Facebook, Instagram, TikTok e X (antigo Twitter). 

Casos emblemáticos ilustram o impacto devastador da desinformação na violência policial contra negros, como o assassinato da vereadora Marielle Franco, em 2018. A falsificação de seu envolvimento com o tráfico e a propagação de fotos falsas atribuídas a ela evidenciam como a desinformação pode legitimar a violência contra pessoas negras e reforçar um discurso de ódio. 

terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

COLUNAS ANTISSOCIAIS: "SEM MEDO DE MATAR"

 

Um policial mata um motociclista para não pagar a viagem; um policial dá 11 tiros em um jovem que roubou sabão no mercado; um policial atira um homem de uma ponte. Cenas da atuação violenta da Polícia Militar que tomaram o noticiário na última semana não são casos isolados – e é preciso voltar à ditadura militar para entender a sensação de impunidade que domina a polícia brasileira. A Trip ouviu especialistas para entender a origem dessa violência.

No Brasil, a ideia de polícia surgiu séculos atrás, mas foi um longo caminho até que ela fosse organizada como hoje: além das polícias federal, rodoviária e ferroviária, submetidas ao governo federal, cada estado tem uma Polícia Civil, que cuida da inteligência e investigação de crimes, e a Polícia Militar, responsável por atender ocorrências e garantir a segurança pública.

Para Camilo Vannuchi, jornalista e autor do livro e podcast “Eu só disse meu nome”, biografia de Alexandre Vannucchi Leme, estudante torturado e morto na ditadura militar, episódios como os que assistimos recentemente mostram a “certeza da impunidade histórica com raiz na ditadura militar”. Segundo ele, a proteção do Estado a qualquer crime cometido por seus agentes é um ingrediente fundamental para violência policial em 2024.

“O Brasil é um país que não tem pena de morte, mas há um salvo-conduto para matar, torturar, desaparecer com suspeitos e fazer esse tipo de coisa que a gente tem visto. A certeza da impunidade dos agentes de segurança pública tem origem na ausência de punição para qualquer pessoa que tenha torturado e matado durante a ditadura no Brasil”, explica Vannucchi.

“O golpe militar foi dado em 1964 e os primeiros movimentos de resistência armada começaram a surgir em 1969. Como as Forças Armadas (Exército, Aeronáutica e Marinha) não tinham atividades de policiamento, a ditadura achou necessário criar uma força para atuar internamente, seguindo a ética e modus operandi do Exército."

Reorganização das polícias

Em 1969, um decreto do então presidente militar Costa e Silva orientou a reorganização das polícias no Brasil. A Guarda Civil e Força Pública, que realizavam o patrulhamento das ruas e cumpriam um papel secundário de policiamento, viraram a Polícia Militar. A ditadura precisava de uma força ostensiva para cercar ruas, verificar documentos e porta-malas de carros para encontrar “materiais subversivos”.

Para o advogado Ariel de Castro Alves, presidente de honra do Grupo Tortura Nunca Mais de São Paulo, o erro está na Constituição Federal, que oficializou a PM. Ele cita o artigo 144, que prevê que as polícias militares funcionem como uma reserva do exército. Segundo ele, isso mantém “os mesmos princípios, treinamentos e atuações da época do regime militar”.

“Os policiais se preparam e vão para as ruas como se estivessem numa guerra onde os ‘inimigos’ são jovens pobres, negros e moradores das periferias. Diante desse legado ditatorial, temos os altos índices de abusos e mortes praticadas por policiais", diz Alves.

Discurso violento

O advogado ainda chama atenção para uma postura do Estado que encoraja a atuação violenta que, somados ao legado da ditadura, resultam numa escalada da violência policial não vista desde a década de 1990. "Em São Paulo, por exemplo, o secretário de segurança Guilherme Derrite, ex-oficial da Rota, e o governador Tarcísio de Freitas deram licenças para os abusos da polícia militar com as declarações que fizeram desde a campanha eleitoral."

Sob comando de Derrite, que em 2021 declarou a um canal no YouTube que foi afastado da Rota [a tropa de elite da PM] por excesso de mortes, a letalidade policial no estado dobrou. De janeiro a outubro deste ano, a PM paulista matou 676 pessoas, segundos dados da Secretária de Segurança Pública — o número é mais que o dobro dos 331 casos registrados em 2022. Só nos últimos 30 dias em São Paulo, 45 PMs foram afastados e dois foram presos por envolvimento em ações violentas.

Quem concorda é Vannuchi. Ele acredita que, além do discurso que endossa atitudes violentas, a sensação de impunidade tem a ver com a anistia. Promulgada durante a ditadura, a Lei da Anistia concedeu perdão a crimes políticos praticado por militares, bem como a quem lutou contra o regime, entre 1961 e 1979.

Nenhum agente condenado 

Ainda que órgãos internacionais tenham determinado que a lei não poderia proteger torturadores de responsabilização, o Supremo Tribunal Federal reafirmou, em 2010, a validade da anistia no Brasil. Até hoje, nenhum agente foi punido por crimes cometidos durante a ditadura. 

“Quando um comandante da polícia diz que jogar um homem de uma ponte foi um ‘erro emocional’, ele está diminuindo a gravidade da situação. Salvo raras exceções, o resultado mais comum é a polícia afastar esse agente da rua como forma de punição mais rigorosa. Essa impunidade tem a ver com a anistia, que permitiu que nenhum torturador sofresse punição até hoje”, afirma Vannuchi.

“Essa violência também tem a ver com os autos de resistência, registros policiais utilizados para justificar mortes ou lesões causadas por agentes de segurança pública em situações alegando confrontos, como em resistências armadas durante operações ou prisões. Autos de resistência dificultam as investigações. É como culpar a vítima do abuso pelo abuso. É um salvo-conduto."

sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

PROCURANDO SAÍDA: DESASTRE RELANÇA CLÁSSICO DO PUNK NACIONAL EM VINIL

O Desastre prepara para os próximos dias mais um relançamento de “Procurando Saída”. Desta vez, a obra-prima do metalpunk nacional será imortalizada em vinil colorido de 180 gramas, capa dupla e encarte colorido. Para aquecer os motores do underground e acompanhar a nova edição deste clássico, a banda produziu vídeos de algumas músicas do disco, e lança hoje o primeiro deles: “Revólver”.


Formada em 1996, a Desastre é uma das bandas mais icônicas do punk e do underground nacional. Com seu som inconfundível, a banda acumula 28 anos de história e reconhecimento internacional. Inclusive, seus dois primeiros discos “Pesadelo Real” (2003) e “Perigo Iminente” (2005) foram lançados em formato LP na França e Alemanha, respectivamente. Além disso, a banda possui outros quatro trabalhos lançados em 7": “Funeral na Nova Ordem (2000), “Mundo Velho (2002) , “Espiral de Barbáries” (2017) e "Vasto Deserto" (2018).

Wilton D, fundador e vocalista da banda, conversou com o Dr. Gori sobre esse grande acontecimento que será cantado em verso e prosa durante todo o ano de 2025 no underground nacional!




O álbum Procurando Saída hoje é considerado um clássico um punk nacional. Qual é a expectativa para o lançamento desse trabalho em vinil?
Cara a expectativa é muito boa. O disco vai ficar muito bonito. A capa já tá pronta. Vai ser uma capa dupla um gatefold , né. E vai ter algumas fotos inéditas, outras não, mas a arte de um modo geral tá muito bonita. A prensagem tá sendo feita na Polisom. Então as expectativas são muito boas. Acho que vai ficar um disco muito bonito graficamente, esteticamente falando. Espero que a qualidade da prensagem seja boa também e espero que as pessoas que comprarem o disco fiquem felizes com aquisição.

Como a banda chegou a esse relançamento, foi uma iniciativa de quem?
A primeira pessoa que me procurou foi o Bacural [Bacural Discos, Ímpeto]. Ele me disse que estava em conversa com o Bruno Foca, de São Paulo e que pensavam em fazer o relançamento do disco em LP. A partir da dessa conversa, o Bruno entrou em contato comigo também e foi tudo muito rápido. Eles conseguiram todos os selos e as pessoas que estão participando do relançamento muito rápido. Acho que as primeiras conversas foram ali por outubro/2024 e tudo já foi prontamente organizado. O Bruno é uma pessoa muito organizada e fez com que tudo caminhasse muito rapidamente.

Esse não é o primeiro relançamento de procurando Saída, ele já saiu com uma versão com faixas extras ao vivo..
Sim, ele já foi relançado em CD. Uma segunda prensagem em CD que contou com algumas faixas bônus ao vivo de um show que foi gravado no Martim Cererê com uma formação diferente do que foi a formação que gravou o disco. Esse CD tá disponível ainda pela Two Beers or Not Two Beers Recs. Se alguém tiver interesse, basta entrar em contato com eles que ainda é possível adquirir cópias desta segunda prensagem do CD.


Porque algumas músicas acabaram ficando de fora dessa versão em vinil?
O disco é muito longo e o vinil tem um limite de tempo. Se eu não me engano 22 minutos de cada lado para que tenha uma qualidade melhor. Acho que o “Procurando Saída” todo tem mais ou menos 57 minutos, alguma coisa assim. Não era possível colocar todas as músicas, tivemos que deixar algumas de fora para que o disco não perdesse qualidade na prensagem. Optei por tirar, por exemplo, o cover do Besthöven que o Fofão inclusive lamentou que não tenha sido colocado. Eu falei com ele recentemente e ele disse: “– Pô, vai sair o cover no disco cara?” Além disso, a versão do Belchior que a gente tinha feito não vai estar no LP também, porque a gente não conseguiu autorização dos herdeiros do cara para que a música fosse incluída. Eles disseram que não era possível conceder a autorização porque a versão que fizemos descaracteriza a versão original feita pelo Belchior. Então ficou de fora. Algumas outras ficaram fora também. Eu fiz essa curadoria, quais entrariam e quais sairiam. Mas é isso, infelizmente algumas ficaram de fora por questão de tempo. O LP não suportaria todas as músicas.

Como foi o período de gravação do álbum?
Cara o período de gravação do “Procurando Saída” foi em 2007. Foi uma fase muito produtiva da banda. O que facilitou muito a composição desse disco foi o fato de que a gente tinha um estúdio próprio, que ficava na casa do meu pai. Você sabe, né, você já tocou lá...rsrs. Então o fato de ter o estúdio próprio fez com que a gente tivesse mais tempo para produzir as músicas, pensar nas músicas, e fazer um disco um pouco mais elaborado. Isso foi um fator determinante para que o disco tivesse tanto o tamanho em termos de tempo quanto a profundidade em termos de elaboração musical. Além desse fato, a entrada do Hassan na banda fez com que a gente desse um salto em direção a possibilidades de se trabalhar de forma mais elaborada as músicas em termos de composição. O Hassan era uma pessoa muito versátil na guitarra, então isso puxou o resto da banda. Fez com que a gente passasse a executar ideias que a gente tinha anteriormente, mas que por questões técnicas não conseguíamos. O Procurando Saída existe também porque o Hassan entrou na banda e fez com que a gente pudesse explorar estilos, timbres e possibilidades musicais que anteriormente não eram possíveis por causa das limitações técnicas que tínhamos nas guitarras.

Antes de Procurando Saída, o Desastre tinha já tinha lançado “Mundo Velho” e “Pesadelo Real” e "Perigo Iminente", trabalhos mais crus e diretos… Quais foram os caminhos que levaram até a evolução do o estilo metal punk de Procurando Saída, que é bem mais elaborado musicalmente?
Cara eu acho que é um pouco do que eu falei antes. O Procurando Saída é resultado, em grande parte, do tempo que tivemos para dedicar a composição desse álbum e também da entrada do Hassan no Desastre. Isso foi definitivo para que a gente conseguisse atingir o nível técnico do “Procurando Saída”. Essa coisa mais metal, essas guitarras mais rock-metal que são características desse disco. Sem o Hassan isso não teria sido possível. O “Perigo Iminente” já foi ali uma tentativa de fazer algo mais elaborado, mas dentro das nossas limitações técnicas. A maioria das músicas do perigo Iminente são minhas, o Rato fez duas. Anteriormente, no “Pesadelo Real” à exceção de uma música que o Rato fez, todo o restante foi eu, assim como todas as anteriores. Eu sou um guitarrista tecnicamente muito limitado, né. Jamais conseguiria tocar as músicas do “Procurando Saída”, apesar de ter feito muitos riffs do disco. Mas eu criava os riffs e passava para o Hassan que deixava com o um toque totalmente diferente em termos de paletada, colocava mais elementos que deixava a música muito mais melódica e direcionada para uma pegada metal que é o que a gente estava pensando em fazer. O Danny também compôs nesse disco. “O Inferno não é Um Lugar Ruim”, Me Diga que a Morte Seja Apenas Ilusão” são riffs criados pelo Danny. Então é isso, né, o “Procurando Saída” é resultado desse processo. Um pouco de cada um e principalmente da entrada do Hassan na banda que possibilitou essa atmosfera de experimentar, misturar elementos e estilos musicais: punk, rock, metal, hard rock.


O Desastre é uma banda muito produtiva em termos de lançamentos e a banda voltou a ensaiar com o Fabiano na bateria e o Danny no baixo, que gravaram o Procurando Saída. Após o relançamento de “Procurando Saída” a banda pretende compor material novo com essa formação?
Cara, não nada pensado nesse sentido de fazer novos lançamentos. Por enquanto a gente tá organizando para começar os ensaios para fazer o lançamento do disco. É uma festa, né, de comemoração do lançamento desse disco em LP. Talvez a gente mantenha a formação para fazer shows, mas nem cogitamos a ideia de fazer músicas novas. Temos convites para tocar em São Paulo e tal, mas tudo isso é muito difícil na conjuntura atual. Tudo é muito caro, passagens, comida, todo mundo tem muitos compromissos de tempo e tudo mais. Então não sabemos como será essa dinâmica. O que a gente quer no momento é fazer alguns ensaios fazer esse show de lançamento e vamos levando a coisa na maciota, né. Na medida do que for possível em termos de tempo e de dinheiro.


Deixe aquele recado pra galera…
Heavy, muito obrigado pelo espaço aqui no Dr. Gori. Você que é uma pessoa que sempre acompanhou o trabalho do Desastre. Muito obrigado por todo o suporte que você deu e tem dado para banda ao longo dos anos. Muito obrigado por essa amizade. Esperamos que o LP esteja disponível já no início de fevereiro/2025. Agradeço muito a todos os selos e pessoas que estão envolvidas no lançamento do LP. O disco vai ficar muito bonito, com uma qualidade muito boa. Então espero que o lançamento reifique o valor que muitas pessoas dão para esse disco. Muito obrigado, um abraço a todos, e espero ver vocês por aí. Ao pessoal de Goiânia, espero ver vocês no lançamento do disco que deve acontecer em breve.  




terça-feira, 21 de janeiro de 2025

COLUNAS ANTISSOCIAIS: EVA ESTÁ AQUI


EVA ESTÁ AQUI

Júlio Maria

Jornalista e biógrafo

Aos poucos conheço Eva. Não pelos livros nem pelo cinema, mas pela memória de sua filha, com quem me casei há três meses. Eva não resistiu à sobreposição de eclipses sobre sua luz antes de ser sepultada na indigência da História. Casada com o intelectual comunista Clodomir Santos de Morais, um dos líderes das Ligas Camponesas, ela teve sua coragem e seus sofrimentos sombreados pela coragem e sofrimento dos homens. 


Eva não morou na Zona Sul do Rio nem em Higienópolis. Era uma gaúcha cabocla de poucas palavras que queria capacitar famílias rurais para que elas não precisassem de governos. Viveu parte da infância escravizada em uma fazenda no interior do Rio Grande do Sul, foi abusada por um padrasto e, quando aderiu à resistência armada pelas causas camponesas, abaixou-se para dizer algo olhando nos olhos da filha: “Se um dia eu mandar você correr, corra e não olhe para trás.”

      

Quando tinha 22 anos, em 12 de dezembro de 1962, Eva estava com Clodomir e o motorista em um jipe Aero Willys passando por Parada de Lucas, no Rio. O pneu do carro furou e os policiais apareceram. No interior do veículo havia 72 armas de grosso calibre sendo levadas para municiar camponeses na luta por terras. 


Os três foram conduzidos para a Invernada de Olaria, uma zona de tortura instalada no Rio. Fios foram desencapados e 15 homens se reuniram para seviciá-la enquanto Clodomir apanhava em outra sala. Como se negou a ficar nua, um deles a segurou enquanto outro rasgou sua blusa. A sessão começou com o jogo de peteca: Eva ficava no meio de uma roda para ser esbofeteada. Um tapa a lançava por alguns metros e outro agente a devolvia com outro tapa.

     

Eles a colocaram no pau de arara, mas, como Eva não dizia nada sobre o marido e as Ligas Camponesas, alguém trouxe os fios. Dois deles foram penetrados em seus ouvidos para disparar choques nos tímpanos enquanto outras pontas foram presas à cabeça. Eva só gritava. Colocaram pontas de fios nos bicos dos seios e introduziram outra em sua vagina. Dispararam cargas elétricas até Eva perder os sentidos. Em abril de 1963, uma CPI foi aberta para apurar os exageros da Invernada de Olaria. Eva se tornou a primeira mulher a relatar a tortura no Brasil. E a história nem havia começado.


O Golpe de 1964 levou Eva e o marido de novo à prisão e, em seguida, os obrigou a sair do país. Exilaram-se no Chile e seguiram depois por México, Costa Rica, Honduras, Portugal, Nicarágua e Alemanha Oriental, onde Eva teve a certeza de que sua família estava sendo vigiada pela Stasi, a polícia secreta do regime comunista. 


No dia em que Clodomir, devoto do sistema, a viu com o ouvido colado à parede da sala auscultando ruídos de fios colocados por espiões, decidiu interná-la. Eva chegou a mostrar à filha como os espiões os vigiavam do prédio da frente, mas nada a livrou de passar um ano tomando, desta vez, eletrochoques alemães. Dois anos depois de voltarem ao Brasil, o muro caiu e a espionagem aos brasileiros foi comprovada. 


Clodomir a deixou por uma mulher 35 anos mais jovem. Eva caiu em depressão e morreu de câncer em 2000.  


Novembro de 2024. Saio de uma sessão de “Ainda estou aqui” com Indiana, a filha de Eva. Eu sei por que ela chora. O filme aclamado por tantos justos motivos é asséptico, higienizado e estético. A Zona Sul cuidadosamente contada pela Zona Sul. Até os carros antigos brilham como se a moda fosse encerá-los todos os dias. A trilha sonora traz brasilidades de pista e as Fernandas, filha e mãe, estão leves e tocantes. 


Mostra-se a masmorra, mas não a tortura, e parece importante que um personagem diga algo com repulsa ao revelar as ações do desaparecido Rubens Paiva à sua mulher, Eunice: “Nunca pegamos em armas.” Como filha, Indiana se sente traída pelos únicos mediadores que podem contar às massas sobre o passado mais ameaçador da História do Brasil. 


Como biógrafo, só não me sinto um fracasso porque segurei as mãos de Indiana e disse, enquanto ela chorava: “Chegou a hora de contar a história de sua mãe.”


segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

6º SENTIDO LANÇA VÍDEO DA MÚSICA "MUNDO DO PRECONCEITO"

A banda goiana Sexto Sentido lançou no final do ano o lyric vídeo de seu som mais recente “Mundo do Preconceito” no seu canal do Youtube. A banda é formada por Guilherme Leandro (guitarrista), Lucas Alves (guitarrista), João Flávio (baterista) e Kennedy Alves (vocalista e baixista). O Dr. Gori bateu um papo rápido com o vocalista e baixista Kennedy Alves sobre esta novidade.

Vocês lançaram o vídeo da música “Mundo do preconceito”. Porque essa música foi escolhida e sobre o que ela fala?
A música mundo do preconceito foi escolhida por nós do 6°SENTIDO para este lançamento que vai estar em lyric vídeo em parceria com a Motim Underground , é em breve estará disponível em mídias digitais de música, por que e uma das primeiras composições da banda, e também e uma música que abrange mais de um estilo entre uma pegada de metal , com uma pegada punk rock também.

Essa música fala sobre uma crítica social, no qual aborda o julgamento da sociedade sobre você a respeito do que você tem em valor financeiro, e também aborda como para os políticos o dinheiro resolve tudo, mesmo que sejam presos sempre pagam fiança. E caso a pessoa pense em cobrar ou mudar o seu papel nisso, a sociedade te julga por ser um crítico do sistema.

A presença da banda nas plataformas de streaming e redes sociais também é um ponto forte de divulgação do trabalho de vocês?
Sim. Esse não e o primeiro material em vídeo que a gente disponibilizou para o nosso público que gosta da banda , temos matérias em vídeos dos shows ao vivo que fizemos no decorrer do ano de 2024 , hoje o 6°SENTIDO conta com materiais em todas as mídias digitais de música é streaming , estamos nas principais plataformas como Spotify, Deezer, YouTube, Amazon Music, Apple Music e vários outros.
 
Vocês vão mostrando o repertório de vocês de single em single. Já estão preparando um trabalho tipo EP ou CD, quando a gente vai poder ouvir ver um trabalho completo da banda?A banda vem lançando singles no decorrer dos anos entre 2023 e 2024 , essa foi uma forma de conseguir fazer novos materiais conforme as condições financeiras da banda, por tanto temos um projeto de estar lançando um EP de 5 faixas com duas músicas novas no repertório , e futuramente conforme as condições financeiras e a disposição da banda , a gente tem planos de lançar também um álbum pra galera que gosta da banda.